Este post vem a propósito da atribuição de estrelas / bolas pelos críticos de cinema nos jornais. Tinha eu visto Babel recentemente, e gostado bastante, quando, ao ler o jornal no fim-de-semana, me surpreendi ao ver que os críticos do mesmo tinham sido unânimes na avaliação: 1 bolinha ou 1 bola preta (o pior da escala)! Fiquei um bocado perplexo; habitualmente não ligo às "notas" dos críticos, e se os leio com alguma regularidade, ao fim de algum tempo são-me úteis, não por seguir as suas opiniões, mas porque lendo o que eles acharam consigo ter uma ideia razoavelmente precisa se vou gostar ou não (o que não significa que concorde com eles; há muitos louvores que me fazem logo perceber que detestaria o filme).
Mas neste caso fiquei surpreendido; ao fim e ao cabo, Babel parecera-me um filme bastante consensual, com muita coisa de que gostar mesmo que não se apreciassem alguns aspectos. Seria eu que estava a ser saloio? Ora ninguém gosta de ser saloio, muito menos quem tem algumas pretensões de inteligência e bom gosto! (Culpado!)
Revi mentalmente os defeitos do filme. Sim, todo o episódio japonês é um bocado fraco, o recurso a uma surda-muda para ilustrar dificuldade de comunicação um bocado óbvio demais. Sim, há muita political correctness - o guia marroquino tão íntegro e bonzinho, a nanny mexicana tão boazinha, a festa mexicana tão feliz e tão pura, os turistas americanos e franceses tão egoístas - e eu até detesto a political correctness. Sim, alguns planos, como os da discoteca em Tóquio, são fracos. Por vezes o ritmo do filme é um bocado lento. E provavelmente se me esforçasse encontraria mais uma meia dúzia de defeitos (ou mais).
Mas, UMA mísera bolinha? Bola preta? O pior possível? Não haverá um ligeiro exagero? Um desejo de ser tão inteligente, tão cool? Certamente são admiradores dos filmes do Grande Manoel! (O Mestre - e aqui curvemo-nos todos reverentemente) Bolas, Babel está longe de ser dos melhores filmes que vi, enferma dos defeitos que referi - mas amplamente compensados pela capacidade de transmitir emoção, de perturbar, o que a political correctness pura nunca faz, pois só consegue ser irritantemente didáctica -, tem inegável mérito artístico (bem filmado, bem interpretado) - é um bom filme! Por acaso, recentemente dera com uma outra manifestação desta característica de irritante pedantismo crítico: uma crónica do Pedro Mexia referia-se a uma lista do Observer de 50 filmes do tipo lista-de-filmes-a-ver-antes-de-morrer, quase totalmente constituída por filmes mais ou menos obscuros, que continha inclusivamente títulos como Tin Cup! (uma xaropada com Kevin Costner) Traduzindo: "ai que inteligentes e cultos nós somos, que vamos desenterrar estes filmes com um mérito estupendo que só nós percebemos!" Ou seja - a velha estratégia de turvar as águas para parecerem profundas, tão querida a mestres (inegavelmente mestres nessa estratégia) como o Grande Manoel, João César Monteiro, Godard e tantos outros...
Para terminar - eu gostei de Babel, e já que os outros classificam, aqui vai a minha nota:
;-)
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