quinta-feira, julho 27, 2006

Shalimar o Palhaço, de Salman Rushdie


Shalimar o Palhaço é um bom livro, embora não dos melhores de Rushdie - quanto a mim, bastante inferior a Os Filhos da Meia-Noite, Vergonha e O Último Suspiro do Mouro, que acho os melhores, sobretudo os dois primeiros, mas muito melhor que os últimos, os falhados Fúria e O Chão Que Ela Pisa. Gosto muito de Rushdie, desde que o li pela primeira vez - precisamente Os Filhos da Meia-Noite, que foi uma revelação. Nos últimos anos, tenho apreciado mais os seus ensaios que os seus romances - Oriente, Ocidente, Pátrias Imaginárias e Pisar o Risco. Sempre achei lamentável que Salman Rushdie tivesse atingido a notoriedade que conheceu por causa da bárbara fatwa de Khomeiny, aliás por um livro que acho longe dos seus melhores. No entanto, após algumas reacções confusas iniciais - e quem não estaria perturbado, sob uma sentença de morte ditada por fundamentalistas muçulmanos? - acho que ele lidou admiravelmente com o assunto e admiro-o por isso.

Mas quanto a Shalimar, o livro tem um começo um bocado lento, algumas personagens fracas (como India e o próprio Shalimar), e umas partes pouco conseguidas, mas outras excelentes, sobretudo as de Caxemira, nomeadamente as da sua destruição progressiva e inexorável causada pela intolerância e o fanatismo. Aliás, Rushdie é habitualmente muito bom a exprimir o horror consequência da intolerância, e fica-se sempre (pelo menos eu fico) com um nó no estômago. Pode ser palavroso e barroco, e é-o muitas vezes, mas é forte e emotivo.

As imagens são de Caxemira, esse paraíso perdido, que é um dos lugares que eu gostaria de visitar, desde que vi pela primeira vez imagens dos barcos-casa nos lagos de Srinagar. Um paraíso destruído pela intolerância absurda, como o Afeganistão, ou o Líbano. Só por não nos permitir esquecer isso, já vale a pena ter sido escrito Shalimar.

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