domingo, junho 25, 2006

The Golden Age, de Gore Vidal

Terminei de reler The Golden Age, que encerra o ciclo de romances históricos sobre os Estados Unidos, Narratives of Empire. E encerra-o com chave de ouro, é um dos melhores da série - maduro, desencantado, inteligente, com o espírito arguto e irónico tão característico de Vidal, cuja escrita derrama um veneno suave e corrosivo, divertido e simultaneamente triste, sobre a historiografia tradicional (elegíaca) do seu país.

Washington, DC foi o primeiro da série, embora cubra o período mais recente, que é repetido em The Golden Age, mais extenso e incluindo personagens que inicialmente não existiam. Cronologicamente, os outros são Burr, Lincoln, 1876, Empire e Hollywood.

Em Burr, os primeiros tempos dos Estados Unidos são narrados de uma forma arrasadora para as figuras habitualmente veneradas, como Jefferson, Washington ou Hamilton, vistas sob a perspectiva de Aaron Burr, que se tornou uma espécie de maldito da historiografia tradicional - e como tal, praticamente esquecido. Lincoln também apresenta uma perspectiva pouco ortodoxa da Guerra Civil, e embora Vidal mostre admiração por Lincoln, esta é expressa por motivos bem diferentes da virtuosa imagem que habitualmente se transmite. Em 1876, mais uma vez o sistema político é implacavelmente dissecado, e é interessante relacionar a história da eleição desse ano com a de 2000 (eu já tinha lido antes, pelo que as peripécias da primeira eleição de George W. Bush me surpreenderam pouco). Empire (que por acaso foi o primeiro da série que li) relata de forma magistral o início do Império Americano (além de introduzir a personagem de Caroline, que Vidal utiliza de certa forma como veículo da sua perspectiva pessoal), continuando em Hollywood.

Em The Golden Age, Gore Vidal reúne as pontas soltas, retoma a história de Washington, DC, fazendo uma admirável transição do protagonista da história (ou seja, do veículo dos seus pontos de vista) de Caroline para Peter Sanford, e termina com um encontro imaginário entre a sua personagem e ele próprio. Concordo com o que ele diz no posfácio, que este tipo de ficção histórica (tão diferente dos irritantes livros sobre personagens históricas romanceadas, quase sempre terrivelmente mal escritos, que ultimamente proliferam como cogumelos nas livrarias - que fome súbita será esta do público por este género de livros?) é mais útil para a compreensão da História, das suas causas e correntes, do que os manuais tradicionais, geralmente imbuídos de ideias feitas e influenciados pela óptica dos vencedores. E num mundo em que todos vivemos mais ou menos sob a égide do Império Americano, é extremamente interessante ler a obra de Vidal.

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