Conheci a Beatriz aos 14 anos, ela tinha 19, e achei-a bela como uma Madonna renascentista. Loira, olhos azuis, expressão vulnerável... Anos mais tarde, tive uma enorme paixão por ela, que me fez suspirar e andar deprimido. Mas nessa altura já éramos grandes amigos; foi com ela e os seus amigos que comecei a frequentar bares, a conversar de temas mais adultos e a ler muita coisa. Foi uma presença marcante na minha adolescência, a vários níveis, e associo-a indissoluvelmente à minha transição para a idade adulta. Aliás, outra influência fundamental que teve em mim foi o ter sido um dos factores determinantes que me levou a escolher Medicina...
Depois da paixão, que se consumiu e terminou, mantive uma grande amizade por ela, e acompanhámo-nos vários anos. Passado o fascínio, não fui cego aos seus muitos defeitos, mas sempre gostei de pessoas com defeitos, mesmo que grandes; como me lembro de lhe dizer uma vez, gosto de quem sinto que tem um "toque de génio", aborrece-me a mediania e a previsibilidade. Nos últimos anos, no entanto, afastámo-nos insensivelmente; nunca nos zangámos, mas os nossos caminhos foram-se afastando por um ou outro motivo, a frequência dos nossos encontros espaçou-se progressivamente, deixámos de nos procurar. De tal forma que, quando dou por isso, agora que somos literalmente vizinhos (situação pela qual eu venderia a alma aos 18 anos!) apenas nos vemos se nos cruzamos por acaso no átrio.
É este o destino de muitas relações que num momento são tão intensas e importantes, e depois caem nesta espécie de limbo. Mas de qualquer forma, mesmo com todos os altos e baixos, foi bom tê-la conhecido, e ainda hoje permanece aquela familiaridade básica e afectuosa que sobra com quem fomos verdadeiramente íntimos.
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