domingo, abril 25, 2010
Duncan Grant - a Biography, de Frances Spalding
Depois de ler as biografias dos elementos principais de Bloomsbury - Virginia Woolf, Lytton Strachey e Maynard Keynes - restam-me as dos outros membros, e foi com grande prazer que li a de Duncan Grant que, segundo alguém que agora não me lembro quem foi, foi amado por todos eles. A extensa biografia de Frances Spalding está bem escrita e é sempre interessante rever aquele meio e aquela época; aliás, Grant foi o elemento do grupo original que morreu mais tarde (exceptuo Frances Partridge, que foi um membro mais acessório). A meu ver, a importância artística de Duncan Grant é muito inferior à de Virginia Woolf, e a sua personalidade muito menos interessante que a de Lytton Strachey, no entanto, ocupou um lugar central no círculo de amigos, pelas suas ligações com Lytton, Keynes e Vanessa Bell. Como pintor, apesar de uma obra enorme e muitas vezes interessante, ficou sempre muito aquém dos seus contemporâneos e inspiradores Matisse, Picasso, Cézanne ou Derain. Para mim, é a sua ligação a Bloomsbury e a sua participação no movimento artístico do primeiro quarto do século XX, incluindo a experiência das Omega Workshops, que o tornam interessante. Foi de facto um período fascinante.
sábado, abril 17, 2010
Los Alegres Muchachos de Atzavara, de Manuel Vázquez Montalbán
Comprei este livro na minha última ida a Madrid para treinar o meu Castelhano. De Montalbán só tinha lido Ou César ou Nada, de que por sinal gostei bastante, um bom romance sobre os fascinantes Bórgias, centrado em César. Los Alegres Muchachos de Atzavara é um livro divertido e mordaz, uma comédia de costumes passada no Verão de 1974, na fase final do franquismo, narrada por quatro personagens diferentes. O tom é divertido, nomeadamente na diferença entre as vozes e perspectivas dos diferentes narradores, e o ambiente bem conseguido. Quanto ao Castelhano, consegui perceber quase tudo e ler com fluidez; espero ler mais nesta língua no futuro.
domingo, abril 11, 2010
Viagem a Paris em família
Depois de várias vezes projectada e várias vezes adiada, realizou-se a minha ida a Paris com os meus filhos. Foram uns óptimos dias de férias, combinando divertimento e cultura, e sinto um especial prazer não só em dar-lhes a conhecer sítios de que gosto e que é engraçado rever pelos olhos deles, como se fosse a primeira vez, mas em incutir-lhes o gosto por viajar, alargar-lhes os horizontes e sentir o prazer deles ao contactarem com os lugares.
Tivemos muita sorte com o tempo, que esteve quase sempre excelente, o que nos permitiu andar imenso a pé e ver a cidade no seu melhor aspecto. Fomos uns verdadeiros turistas: percorremos os bairros da Île de La Cité e Île de St.Louis, o Quartier Latin e Saint Germain-des-Prés, os Champs-Elysées e a Place de l'Etoile, a Opera, Les Halles, o Marais e Montmartre, com muitas paragens em cafés e lojas e várias viagens de metro. Foi bom rever sítios que não voltara a visitar desde a minha primeira ida a Paris, como Notre Dame, a Torre Eiffel, os Museus do Louvre e d'Orsay (infelizmente o Museu Picasso está em remodelações até 2012). Conheci o Palais de Tokyo e o seu excelente museu de arte moderna (e almoçámos no Tokyoeat, um óptimo restaurante que me fora recomendado) e o Museu do Quay Branly, de arte não ocidental, que abriu há poucos anos e que foi uma excelente surpresa (tal como fora o Whitney Museum de San Francisco, há uns anos).
Muitos cafés e restaurantes pelo meio, lojas de delicatessen como o enorme Fauchon, horas em livrarias da Rive Gauche de onde saí com um pequeno (porque me controlei!) carregamento de livros, os bouquinistes ao longo do rio, as galerias das Passages, lojas de roupas (felizmente as minhas filhas ainda não apreciam a que se vende pelo Marais), etc.
No meio das férias, cumpri a promessa de os levar à EuroDisney. Nunca gostei deste tipo de parques de divertimento enlatado, e achei-o ainda muito pior do que esperava - foi o meu sacrifício de pai indulgente... Saí de lá com dor de cabeça de ouvir aquelas horríveis músicas saltitantes; a única vantagem foi ter sido o único dia em que o tempo esteve muito nublado e choveu um pouco. Teria sido um dia para esquecer se não o tivesse acabado metido nas livrarias. Encontram-se livros terrivelmente baratos, e há de tudo - por minha vontade teria enchido um baú!
Para completar a circuito turístico, não faltou o passeio de barco pelo Sena, os meus filhos quiseram fazer-se retratar a carvão na Place du Tertre (ficaram reconhecíveis) e terminámos com a subida à Torre Eiffel, num dia de sol que nos permitiu apreciar as vistas no seu melhor.
Enfim, mais uma viagem bem sucedida, que me deixou já com vontade de fazer as próximas (destinos a determinar)!
domingo, abril 04, 2010
John Maynard Keynes, de Robert Skidelsky
Terminei há dias a excelente biografia de Keynes por Robert Skidelsky. É um livro magnífico, que faz justiça à personalidade do biografado. Robert Skidelsky é historiador e economista, o que lhe permite alongar-se sobre os aspectos técnicos da obra de Keynes; sou pouco versado em Economia, de modo que houve várias passagens sobre detalhes técnicos que não compreendi inteiramente, mas o principal está muito bem explicado, e é uma das qualidades do livro nunca se tornar aborrecido, mesmo nessas partes. Keynes foi uma personagem bigger than life, inteligente, inovador, de uma energia inesgotável, culto, socialmente consciente, dos mais importantes representantes da geração de Bloomsbury que eu tanto aprecio e sem dúvida o seu elemento globalmente mais influente. Uma citação de Lionel Robbins,escrita já na fase final da vida de Keynes, resume-o bem: "... I often find myself thinking that Keynes must be one of the most remarkable men that have ever lived - the quick logic, the birdlike swoop of intuition, the vivid fancy, the wide vision, above all the incomparable sense of the fitness of words, all combine to make something several degrees beyond the limit of ordinary human achievement..." Além da vida e obra de Keynes, o livro é extremamente interessante como história da sua época; as passagens sobre as negociações anglo-americanas durante e após a 2ª Guerra Mundial são empolgantes, dão-nos uma ideia vívida de como foram aqueles momentos tão decisivos para o mundo em que vivemos actualmente. E é lamentável pensar como evoluiu nas últimas décadas o pensamento económico, e nas pessoas que defendem que a economia não está indissoluvelmente ligada à política, permitindo a "selva" financeira actual. Bem falta nos fazem pessoas como Keynes.