domingo, dezembro 23, 2007
sexta-feira, dezembro 21, 2007
The Costs of Living, de Barry Schwartz
Um livro interessante, que gostei de ler, embora em várias passagens me tenha irritado um pouco. A tese central - de que a mentalidade da economia de mercado, o chamado imperialismo económico, está progressivamente a invadir todos os campos da nossa vida e a corrompê-los - é válida, está bem apresentada, e globalmente o autor faz uma descrição muito correcta e perspicaz da nossa sociedade. Chama a atenção para o facto muito importante de que o imperialismo económico não é uma inevitabilidade biológica, e que é o predomínio actual da mentalidade "de mercado" que assim o faz pensar.
Há dois aspectos no livro, no entanto, que me desagradaram. O primeiro é um certo tom... lamentoso, saudosista, que frepassa todo o texto, ou boa parte dele. Logo n início, o autor deplora a sorte de um casal conhecido, de profissionais bem sucedidos economicamente e na sua carreira, mas que no entanto vive infeliz, pressionado pelo esforço de manter uma vida e um "sucesso" a que se sentem social e culturalmente obrigados mas que não os satisfaz nem realiza. E passa daí a expor como a superabundância de escolhas nos torna inseguros e infelizes - contrapondo com antigamente em que a maior parte dos aspectos da nossa vida não precisavam de ser escolhidos pois estavam determinados à partida. Ora esse é um raciocínio falacioso - é verdade que ainda não aprendemos a gerir a multiplicidade de escolhas e decisões que a liberdade actual nos proporciona, mas a resposta é aprender a geri-la e não deixar de a ter. Estou certo de que um casal correspondente de há 30 ou 50 anos tinha outros problemas - a mulher obrigada a estar em casa e dependente economicamente do marido, o homem a seguir a profissão imposta pela tradição familiar, eventualmente a forçar-se a disfarçar uma possível homossexualidade, por exemplo... Pelo menos os problemas do casal da actualidade dependem deles próprios e podem sempre aprender a fazer as escolhas que os farão verdadeiramente felizes e realizados.
O segundo aspecto que me desagradou é o das soluções propostas pelo autor (um problema aliás muito frequente neste tipo de livros - acertam no diagnóstico dos problemas mas apresentam soluções irrealistas e desajustadas; pergunto-me porque insistem em propor soluções?), com um ênfase particular no recurso à religião e à vida "espartilhada" numa comunidade. Discordo absolutamente de que impormo-nos regras ou recorrermos à perda da livre-escolha (seja em coisas tão importantes como a profissão que escolhemos ou tão insignificantes como o que comemos à 6ª feira) seja a solução. O individualismo e a liberdade pessoal são de facto uma conquista e a base da nossa civilização, e não é por acaso que esta, com todos os defeitos que possa ter, é a mais bem sucedida actualmente e a que proporciona maior bem estar (e por favor não me venham com a felicidade dos povos do 3º Mundo ou dos países muçulmanos, basta ver a direcção dos fluxos de emigração).
Qual a solução então? Não sei, e não sei sequer se existe. Pessoalmente, acho que, como bom herdeiro do Iluminismo, a educação, a informação e a cultura são a resposta - quanto mais informadas as pessoas estiverem mais perceberão que a felicidade não está num consumismo selvagem nem na competição a todo o custo. Não acho que sejamos todos basicamente "bons selvagens" nem uns egoístas inveterados como defendem os extremistas do darwinismo social - mesmo porque, sob o ponto de vista evolutivo, a capacidade de cooperação contribuiu tanto como o egoísmo para o sucesso da nossa espécie. Acredito que um maior conhecimento desenvolve também o sentido da importância de uma moral, que não tem de e não deve ser religiosa. Ao fim e ao cabo, a maioria das pessoas é normal, ou seja, razoavelmente decente.
Há dois aspectos no livro, no entanto, que me desagradaram. O primeiro é um certo tom... lamentoso, saudosista, que frepassa todo o texto, ou boa parte dele. Logo n início, o autor deplora a sorte de um casal conhecido, de profissionais bem sucedidos economicamente e na sua carreira, mas que no entanto vive infeliz, pressionado pelo esforço de manter uma vida e um "sucesso" a que se sentem social e culturalmente obrigados mas que não os satisfaz nem realiza. E passa daí a expor como a superabundância de escolhas nos torna inseguros e infelizes - contrapondo com antigamente em que a maior parte dos aspectos da nossa vida não precisavam de ser escolhidos pois estavam determinados à partida. Ora esse é um raciocínio falacioso - é verdade que ainda não aprendemos a gerir a multiplicidade de escolhas e decisões que a liberdade actual nos proporciona, mas a resposta é aprender a geri-la e não deixar de a ter. Estou certo de que um casal correspondente de há 30 ou 50 anos tinha outros problemas - a mulher obrigada a estar em casa e dependente economicamente do marido, o homem a seguir a profissão imposta pela tradição familiar, eventualmente a forçar-se a disfarçar uma possível homossexualidade, por exemplo... Pelo menos os problemas do casal da actualidade dependem deles próprios e podem sempre aprender a fazer as escolhas que os farão verdadeiramente felizes e realizados.
O segundo aspecto que me desagradou é o das soluções propostas pelo autor (um problema aliás muito frequente neste tipo de livros - acertam no diagnóstico dos problemas mas apresentam soluções irrealistas e desajustadas; pergunto-me porque insistem em propor soluções?), com um ênfase particular no recurso à religião e à vida "espartilhada" numa comunidade. Discordo absolutamente de que impormo-nos regras ou recorrermos à perda da livre-escolha (seja em coisas tão importantes como a profissão que escolhemos ou tão insignificantes como o que comemos à 6ª feira) seja a solução. O individualismo e a liberdade pessoal são de facto uma conquista e a base da nossa civilização, e não é por acaso que esta, com todos os defeitos que possa ter, é a mais bem sucedida actualmente e a que proporciona maior bem estar (e por favor não me venham com a felicidade dos povos do 3º Mundo ou dos países muçulmanos, basta ver a direcção dos fluxos de emigração).
Qual a solução então? Não sei, e não sei sequer se existe. Pessoalmente, acho que, como bom herdeiro do Iluminismo, a educação, a informação e a cultura são a resposta - quanto mais informadas as pessoas estiverem mais perceberão que a felicidade não está num consumismo selvagem nem na competição a todo o custo. Não acho que sejamos todos basicamente "bons selvagens" nem uns egoístas inveterados como defendem os extremistas do darwinismo social - mesmo porque, sob o ponto de vista evolutivo, a capacidade de cooperação contribuiu tanto como o egoísmo para o sucesso da nossa espécie. Acredito que um maior conhecimento desenvolve também o sentido da importância de uma moral, que não tem de e não deve ser religiosa. Ao fim e ao cabo, a maioria das pessoas é normal, ou seja, razoavelmente decente.
quinta-feira, dezembro 13, 2007
Justinian's Flea, de William Rosen
Um livro muito interessante sobre a pandemia de peste bubónica no século VI, em que o autor defende a tese de que o declínio do império romano do Oriente - e a consequente formação da Europa e ascensão do Islão - foram condicionados em grande parte pela devastação provocada por esta doença. Claro que a pandemia de peste contribuiu para o desenvolvimento dos acontecimentos, dada a sua importância e o facto de qualquer acontecimento dessa magnitude forçosamente influenciar o desenrolar da História. O mais interessante no livro é ser um relato muito bem escrito e empolgante de um período crucial da História, uma época de transição fascinante, cobrindo o final do Império Romano e o século de ouro de Bizâncio, tomando como fio condutor a vida do imperador e com a invulgar perspectiva - para um livro de História - focada numa doença, e com uma mestria descritiva dos assuntos científicos semelhante à dos assuntos históricos, o que é invulgar e para mim constituiu um dos encantos do livro. E é extremamente informativo sobre o período de que trata, sem nunca ser aborrecido. E para quem goste de especular - Histórias virtuais, ou alternativas - é muito interessante imaginar um mundo em que a expansão bizantina sob Justiniano tivesse tido seguimento.
terça-feira, dezembro 11, 2007
O Solar, de William Faulkner
O último livro da trilogia Snopes é o único que tenho em Português e que tinha lido antes, há uns 20 anos, mas é muito melhor lê-lo depois dos outros dois. A história de Flem Snopes e da sua família, inicialmente picaresca e mesquinha, vai crescendo até atingir a grandeza trágica das outras famílias de Yoknapatawpha e, sendo um dos últimos livros de Faulkner, vamos ficando a saber o que aconteceu a várias das personagens de outros livros - os Sartoris, os Compsons, etc. Linda Snopes é das melhores personagens femininas de Faulkner, a par de Rosa Millard ou Jenny Du Pré. Muito, muito bom.
domingo, dezembro 09, 2007
Dois filmes no fim-de-semana
Blood Diamond, de Edward Zwick, é um filme bem intencionado, muito politicamente correcto, e simultaneamente muito hollywoodesco - os bons, os maus, as vítimas, o cínico-que-acaba-bom, convenientemente interpretado por Leonardo DiCaprio. As personagens são todas muito estereotipadas e a intriga abusa de coincidências pouco verosímeis. Mas, além de ser bem conseguido como entretenimento, tem a não pequena virtude de mostrar o problema da violência endémica em África e de como o tráfico pouco escrupuloso - neste caso de diamantes - pelos africanos e europeus contribui para a eternizar. Ou seja, um bom filme para ver neste fim-de-semana em que Lisboa está parcialmente paralisada pela cimeira onde estão tantos dos responsáveis por esta situação e que tão satisfeita deixou o nosso deslumbrado governo.
Penso que foi há uns 7 anos que uma amiga me emprestou Northern Lights, de Philip Pullman, numa altura em que estive de cama doente. Lembro-me de que gostei muito do livro, entrei facilmente e saboreei com delícia o seu universo simultaneamente familiar e fantástico, desde as cenas iniciais em que aparece Lyra com o seu daemon (pobremente traduzido por "demónio" nas legendas do filme), com uma intriga movimentada e cheia de aventuras, com a inquietante vilã Mrs. Coulter e o ambicioso Lord Asriel. Os outros dois livros da trilogia conhecida por His Dark Materials, The Subtle Knife e The Amber Spyglass, não me decepcionaram, a história evolui engenhosamente até ao clímax da épica batalha entre as forças do Bem e do Mal e à separação final dos heróis Lyra e Will.
Foi portanto com natural curiosidade que fui ver o filme The Golden Compass (o título alternativo de Northern Lights). Em geral, é uma boa adaptação do livro, com uim excelente casting de Nicole Kidman e Daniel Craig como Mrs. Coulter e Lord Asriel, e os efeitos especiais a permitir uma transposição bastante fiel do mundo e das criaturas do universo de Pullman. O final foi ligeiramente alterado, e penso que há uma certa superabundância de pormenores que só são bem percebidos por quem conhece o livro. Fico à espera das continuações.
Penso que foi há uns 7 anos que uma amiga me emprestou Northern Lights, de Philip Pullman, numa altura em que estive de cama doente. Lembro-me de que gostei muito do livro, entrei facilmente e saboreei com delícia o seu universo simultaneamente familiar e fantástico, desde as cenas iniciais em que aparece Lyra com o seu daemon (pobremente traduzido por "demónio" nas legendas do filme), com uma intriga movimentada e cheia de aventuras, com a inquietante vilã Mrs. Coulter e o ambicioso Lord Asriel. Os outros dois livros da trilogia conhecida por His Dark Materials, The Subtle Knife e The Amber Spyglass, não me decepcionaram, a história evolui engenhosamente até ao clímax da épica batalha entre as forças do Bem e do Mal e à separação final dos heróis Lyra e Will.
Foi portanto com natural curiosidade que fui ver o filme The Golden Compass (o título alternativo de Northern Lights). Em geral, é uma boa adaptação do livro, com uim excelente casting de Nicole Kidman e Daniel Craig como Mrs. Coulter e Lord Asriel, e os efeitos especiais a permitir uma transposição bastante fiel do mundo e das criaturas do universo de Pullman. O final foi ligeiramente alterado, e penso que há uma certa superabundância de pormenores que só são bem percebidos por quem conhece o livro. Fico à espera das continuações.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
Crónicas Italianas, de Stendhal
Apaixonei-me por A Cartuxa de Parma à primeira leitura, é uma história fantástica e imensamente bem escrita, com personagens humanas nas suas contradições, fraquezas e amoralidades, sobretudo a famosa Sanseverina. O Vermelho e o Negro decepcionou-me, por mais convencional e novelesco. Nas Crónicas Italianas reencontrei o encanto de Stendhal - histórias rocambolescas, por vezes francamente escabrosas, com personagens que cativam porque não são boas nem más, e longe dos enredos tradicionais e moralistas dos romances do século XIX. Não admira que Stendhal fosse tão admirado pelos modernistas, estava bem adiantado para a sua época. Um livro divertido e saboroso.
Quebrar a rotina
Como é bom afastarmo-nos por uns dias da rotina, sobretudo em boa companhia e para um sítio sempre tão fascinante como Londres! Sempre gostei imenso desta cidade, do seu ambiente cosmopolita, da animação, das imensas livrarias e discotecas, das exposições e museus, dos mercados, etc. Já não ia lá há mais de 10 anos, e foi um prazer reconhecer os locais, passear pelo Southbank renovado, pelo Camden Market, Bloomsbury e o Soho. Até o tempo ajudou - sol em Novembro, frio tolerável e pouca chuva. Decididamente, a vida sabe bem enquanto se pode viajar e se tem bons amigos com quem o fazer.